Apresentação do 3º Seminário “A educação do Futuro está aqui!”
17 Novembro 2017

Caros amigos,

Vamos realizar mais um encontro “A educação do futuro está aqui” (#3). Desta vez vamos dar prioridade a ouvir as inovações em curso em escolas portuguesas. Já o tínhamos feito, em parte, nos outros seminários, mas desta vez vamos dedicar muito mais tempo a conhecer-nos uns aos outros e a criar um ambiente propício ao nascimento de verdadeiras, e portanto pequenas, redes de cooperação (nada nasce grande, não é?).

Só assim podemos vir a fortalecer e tornar sustentáveis as mudanças em curso. Somos nós que temos de estabelecer e fortalecer os nós entre nós, nós esses que são imprescindíveis para tornar a inovação sustentável. Só assim os esforços de inovação serão permanentemente avaliados, revistos e corrigidos nas suas trajetórias.

Dedicaremos este Seminário a oito áreas problemáticas, a saber:

. Flexibilidade curricular/DAC
. Aprendizagem baseada em projetos
. Trabalho cooperativo entre docentes
. Diversificar a avaliação dos alunos
. Prevenção da exclusão escolar
. Novas exigências às lideranças escolares
. Nova organização das salas de aula
. Apps, internet e telemóveis na sala de aula

Pela manhã do dia 17 teremos oportunidade de ouvir um “estado da arte” sobre cada uma das oito áreas problemáticas, em plenário, numa versão curta, tipo TED-Talk. De tarde, tendo cada participante escolhido uma área específica de aprofundamento, vamos ter oportunidade de ir mais longe em formato de oficinas: conhecer algumas inovações em curso, apresentar as nossas próprias dinâmicas inovadoras e fazer uma reflexão em torno dos pontos críticos que se vivem nas escolas e dos aspetos que é preciso vir a melhorar no futuro, como fruto de um trabalho mais cooperativo entre as escolas e os professores.

Em que quadro de referência propomos este seminário?

A justiça e a esperança de que a educação escolar se deve revestir, todos os dias, requerem um novo esforço, um grande e belo desafio, uma renovação educacional profunda, mantendo o que funciona bem e alterando, séria e sustentadamente, o que funciona mal.

A escola tem de prosseguir o seu esforço para acolher e educar todos os cidadãos, imersos hoje num mundo tecnológico que os desafia e lhes abre imensas oportunidades, mas também os atola na desconcentração e na desorientação. Sabemos que só uma profunda capacidade de atenção e concentração permitem a cada um perceber o mundo em que vive e descobrir-se a si e aos outros, para ser capaz de viver em comum e em paz. Como pode hoje a escola responder a este repto?

Se não derem a volta para melhor responderem a estes desafios, as escolas podem empobrecer-se como instituições de educação e, assim, empobrecer as crianças e os jovens, “roubando-lhes” o seu futuro.

Temos de nos comprometer com o desenvolvimento pleno dos nossos alunos como pessoas, desafiados a construir projetos de vida neste contexto sociocultural tão cheio de oportunidades e ao mesmo tempo tão desarticulado, fragmentado, líquido, injusto. Isso implica mudar o modelo dominante de ensino-aprendizagem, desde a sala de aula até à governação da escola.

Recusamos o caminho da culpabilização recíproca entre alunos, professores e pais. Esse é o caminho mais usado e é exatamente o mais errado, que só nos amarra mais os pés!

Recusamos a secura antropológica e axiológica da educação e das escolas, pois quanto mais ela cresce, mais definha toda a capacidade humana para nos pensarmos a nós mesmos e ao mundo que criamos. Optamos por investir em formar pessoas competentes e eticamente fortalecidas, bons profissionais e boas pessoas, comprometidas com o bem comum.

Queremos uma escola em que os alunos contem, não apenas como objetos de aprendizagem, mas como sujeitos de conhecimento e de desenvolvimento, de participação ativa na escola, com voz, com autonomia e com responsabilidade.

Felizmente, a ousadia e a coragem, a visão alternativa e a determinação habitam em muitas escolas portuguesas, que já caminham neste sentido global: integração curricular; processos rigorosos de ensino por parte dos professores e de aprendizagem por parte de cada um dos alunos, ambos apoiados na ação inteligente e na investigação, no trabalho em equipas, na cooperação; aposta no desenvolvimento da multiplicidade de inteligências humanas; escolas com espaços amplos e multifuncionais, onde diferentes grupos, na mesma sala, aprendem por caminhos e ritmos diferenciados, apoiados por uma ou por vários docentes, trabalhando por projetos e por temáticas que exploram a curiosidade, estimulam a atenção e a concentração…

Se houvesse autonomia e liberdade, tudo seria mais fácil. Mas esse tem de ser o horizonte da nossa responsabilidade social e política. Temos de conquistar quotidianamente mais autonomia e uma efetiva liberdade, pois só elas nos responsabilizam seriamente.

Mas, só juntos o vamos conseguir realizar! Queremos aprender a caminhar uns com os outros, umas escolas com as outras, potenciando as nossas capacidades e ultrapassando as nossas debilidades.

Não podemos melhorar o desempenho sociocultural das escolas de um dia para o outro.

Não o poderemos fazer cada um no seu canto, a remar contra muros e marés. Também não podemos continuar a disparar pequenas mudanças a toda a hora e para todo o lado, sem rumo, sem foco, sem recursos, pois o sistema é avassalador e devora a nossa melhor boa vontade e dedicação, gerando ainda mais frustração.

Precisamos de estar juntos, do modo que entendermos ser mais adequado, mas solidários, comprometidos, autónomos, decidindo o que queremos fazer, como, quando, com quem e com que meios.

É do futuro da educação que queremos cuidar, consigo, com a sua escola, juntos.

Joaquim Azevedo
Presidente da Fundação Manuel Leão