Filhos de pais ricos melhores alunos 26 Outubro, 2005
Há uma forte relação entre o nível sócio-económico-cultural e o desempenho escolar dos alunos. Esta foi uma das conclusões a que chegou um estudo feito ao longo de cinco anos em 31 escolas com ensino secundário. Durante a apresentação dos resultados, os investigadores criticaram a organização de listagens – vulgarmente conhecidas por “rankings” – das escolas secundárias que serão divulgadas depois de amanhã, por constituirem a imagem mais “liofilizada e ignorante” que se pode ter sobre o que é uma escola.
É já depois de amanhã que alguns órgãos da comunicação social – entre eles o JN – divulgam o “ranking” das escolas secundárias. Essa listagem, que elenca os estabelecimentos de ensino secundário em função das classificações obtidas pelos alunos nos exames do 12.º ano, é elaborada a partir dos dados fornecidos pelo Ministério da Educação com essa finalidade.
Contudo, avaliar o desempenho das escolas tendo como único factor de seriação apenas as classificações de exame, tem sido um tema polémico. Entre as críticas, aponta-se o facto de tal listagem excluir a utilização de outros factores considerados primordiais. Entre eles estão os factores socio-economico-sociais dos alunos e o valor acrescentado (ou seja, o trabalho elaborado) pelas escolas durante o tempo de permanência dos alunos.
Para obter um outro “retrato” da vida das escolas e permitir a elas uma melhor autoavaliação e a consequente melhoria da qualidade do ensino, a Fundação Manuel Leão criou o Programa AVES (Avaliação de Escolas com Ensino Secundário). Ontem, a equipa responsável, liderada por Joaquim Azevedo – ex-secretário de Estado da Educação -, apresentou os resultados obtidos ao longo de cinco anos de investigação.
Em 31 escolas – 18 públicas e 15 privadas – foram aplicadas mais de 187 mil provas por ano, sendo mais de 70 mil de conhecimento e e as restantes de opinião, conhecimento e valores.
No que concerne ao aproveitamento escolar dos alunos, ficou constatada a existência de uma forte relação entre o nível socio-economico-cultural no desempenho dos alunos. O que demonstra que a origem social dos jovens explica as diferenças do sucesso obtido por eles.
Também a análise dos vários tipos de raciocínio dos alunos (numérico, verbal e abstrato) permitiu concluir que quanto maior é o contexto socio-economico-cultural maiores são os resultados.
Outra das conclusões obtidas tem a ver com o valor que as escolas podem acrescentar ou não desde a entrada dos alunos. O efeito da escola sobre os alunos – que alguns estudiosos acreditam ter um peso de 20% no conjunto dos factores que influenciam o rendimento escolar -, foi comprovado, muito embora as investigações feitas a necessitem de maior desenvolvimento.
Joaquim Azevedo realçou a importância do Programa AVES na ajuda à autoavalização das escolas. E apresentou-o como melhor base para esse trabalho do que os “rankings”. Estes, como disse, apresentam uma imagem “liofilizada e ignorante do que é uma escola”.
Fernando Basto